Entrevista: “Tento fazer da melhor forma como se tentando me imaginar criança lendo aquilo”

Da redação para a diagramação! Foi durante as aulas de diagramação de material impresso na faculdade de Jornalismo que Madalena Araújo descobriu qual viria a ser seu ofício.

Quando entrega um projeto finalizado, Madalena espera que o estudante não utilize apenas por obrigação, ela quer que a criança aproveite. “Eu fico lembrando de quando era criança e gostava das apostilas de Português e como me chamavam atenção. Eu tento fazer o meu trabalho da melhor forma, tentando me imaginar criança lendo aquilo”, finaliza. 

Madalena diagramou diversos livros da Coleção Desafio Educacional Avança Ideb, que é voltada para estudantes do Ensino Fundamental com foco em abordar as habilidades fundamentais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Serão dois volumes para cada ano escolar do 1º ao 9º ano de Português e Matemática, ou seja 18 livros no total.

“Os livros dos anos iniciais - 1º ao 5º ano estão prontos e diagramados. Agora estamos em processo com os livros do Fundamental II - 6º ao 9º ano.” afirma.

Nesta entrevista, a profissional explica sobre o processo de criação dos materiais, quais foram seus desafios e da parceria com a Multimídia Educacional.

#1. Como é sua rotina de trabalho com a Multimídia Educacional? Quais as demandas atuais e perspectivas futuras? 

A gestora Mônia é quem solicita as demandas de trabalho periodicamente. Eu avalio o material e passo um orçamento. Após a aprovação do orçamento, eu  inicio o trabalho, sempre seguindo um cronograma com a quantidade de apostilas para serem diagramadas e o prazo para serem entregues.

Estou terminando o projeto de três livros de Matemática, do 7º e 8º ano, para entregar até o começo de janeiro de 2024. Os livros de Matemática são um pouco mais trabalhosos por conta de equações que devem ser representações fiéis para garantir a compreensão. 

#2. Qual foi o material mais desafiador?

Qualquer livro do Ensino Fundamental (Anos Iniciais) é desafiador, porque  precisa ser extremamente visual. Por não ter muito texto, você tem de trabalhar mais imagens de modo que representem as ideias a serem transmitidas. Por exemplo, as palavras cruzadas demandam muito tempo, então, você tem de colocar as figurinhas e tem de ser muito didático e visual para as crianças entenderem. 

#3. Como você enxerga a importância da diagramação de materiais pedagógicos no contexto atual, especialmente considerando material didático para crianças? 

Se ela não tiver um apelo visual e for fiel pedagogicamente à ideia proposta, ela não se torna atrativa. 

Eu vejo pela minha filha que tem seis anos e está iniciando a alfabetização. Ela sempre olha para os livros e pergunta: “mamãe, isso é para escrever, isso daqui é para não sei o quê?”. Por isso, quando estou envolvida em um projeto para os anos iniciais, faço um teste: peço a ela para dar uma olhada e observo se ela consegue entender o que está sendo proposto. 

#4. Considerando a diversidade de crianças, como você aborda a questão da acessibilidade no design do material, para garantir que seja inclusivo para todos?

Eu sempre busco trabalhar um pouco mais os elementos. Gosto de colocar os alunos de diversas etnias e também representantes das diversas deficiências, utilizo ilustrações de personagens de acordo com o tema. 

Não sou ilustradora profissional, recorro ao banco de imagens e vou adaptando as ilustrações para torná-las um pouco diferentes adequado aos projetos. 

Em relação à questão da acessibilidade, até hoje eu não trabalhei em materiais específicos para esse público, seria um desafio a criação de um material desse tipo. Não tive oportunidade para me desenvolver nessa área.

#5. Ao longo do tempo trabalhando nessa área, quais foram os principais aprendizados e como você percebeu a evolução do seu trabalho em relação à diagramação de material didático digital para crianças? 

Foi a questão da personalização de acordo com os objetivos e o apelo visual que capta a atenção, evolui bastante nisso. Quando eu comecei a trabalhar eram materiais técnicos, gostando ou não, a pessoa tinha que ler. Para conseguir a habilitação, ela precisava consumir aquele material. 

No caso da criança, o material tem de ser atrativo para chamar a atenção dela, senão ela não consegue desenvolver o que está sendo proposto no livro. 

#6. Quais são os pontos positivos, negativos e desafios na sua área? 

Conhecimento. Conhecimento é tudo. Por exemplo, da primeira apostila que criei até o material que desenvolvo hoje foi uma superação, sem o conhecimento e experiência que adquiri ao longo dos anos, eu não teria conseguido nem a parceria da Multimídia ou das empresas para as quais trabalho hoje. 

Conhecimento é o principal ponto positivo, depois vem o networking, sem eles é difícil de chegar a qualquer lugar. 

#7. Para encerrar, há algum conselho ou dica que você gostaria de compartilhar com profissionais que estão ingressando ou buscando aprimorar-se na área de diagramação de material didático para crianças? 

Tenha curiosidade, persistência e pesquise sempre. Não espere por milagres. Sempre vá atrás, se você vê alguma notícia nova, corra para tentar se familiarizar, estudar e se especializar.

Madalena Araújo — Formada em jornalismo e design gráfico. Iniciou sua carreira na área de diagramação em 2010, trabalhando em agências de Comunicação, diagramando impressos internos como jornais e revistas para empresas. Em 2018 iniciou a própria empresa, atendendo infoprodutores, empresas e editoras, desenvolvimento projetos gráficos, diagramação de livros, materiais didáticos e anúncios, criação de capas e desenvolvimento de epubs.